Estava lendo sobre resguardo quando me deparei com um comentário de uma mulher não grávida. A mesma mulher questionou o resguardo com a seguinte pergunta: "Isso existe mesmo ou é coisa de avó?". Pois eu respondo em bom tom: existe mesmo, não é frescura e não deve ser negligenciado.
São 40 dias, 6 semanas, para que o trabalho de involução uterina (fechamento do útero) aconteça. Afinal, foram 9 meses crescendo!
E se dentro desses 40 dias a puérpera fizer algo de mais forçado, o sangramento que já estava de cor marrom, volte a ficar vermelho vivo. É o corpo alertando sobre a necessidade de repousar. Portanto, mesmo que estejamos nos sentindo ótimas, com energia, devemos respeitar o resguardo. Nossas avós tem razão. O corpo é o mesmo, apenas acrescente a modernidade.
Falando em puerpério...
Fui a aula ontem, com minhas duas bonecas, e assistimos a um documentário sobre desenvolvimento cultural. Tivemos que observar diferenças e semelhanças de 4 grávidas, de 4 países diferentes, e seus bebês ainda na barriga, partos e vida das crianças até o primeiro ano completo. Os países: Japão, Estados Unidos, Namíbia e Mongólia.
Quanta diferença! Comportamento das gestantes durante o últimos mês; rituais para parir; puerpério e cuidados com recém-nascido. Mas dá pra afirmar que uma cultura é mais desenvolvida que outra? São centenas de anos vivendo de uma certa forma escolhida por possuírem tais recursos, tais territórios, tais resistências imunológicas. E por que o país "X" não recorre a tecnologia do país "Y" para que a competência linguística das suas crianças seja melhor desenvolvida? Porque é cultura. É tradição. É desconstruir para construir para um estado melhor? Não sabemos no que uma adoção de tecnologia implicaria. Os nossos indígenas consideraram-se menos "culturais" que os portugueses, e, os portugueses, mais "culturais". O resultado foi morte e reinado, respectivamente.
Semelhança: todas as mães conversam com seus filhos. Ou melhor, todas as mães tem linguagem maternal e usam-na com seus filhos.
A nossa cultura, ocidental, é de celebração. Celebramos a gravidez, o recém-nascido, o primeiro sorriso, a primeira papinha, as primeiras palminhas, os primeiros passinhos. Mas e a mulher puérpera? Celebramos?
Entendemos celebrar também como cuidado.
Quando se está grávida são paparicos, mimos, filas preferenciais, cafés da manhã, almoços e lanches ao gosto da gestante. É legal. Claro que é. É preciso? Demais. Pelo bem dos bebês que estão sendo gerados. A nossa sociedade, a nossa cultura trata bem as gestantes. Mas e a mulher puérpera? É cuidada?
As mulheres puérperas são mulheres que deram à luz recentemente, com um bebê recém-nascido, com os peitos cheios de leite, muitas vezes de pijama, muitas horas de sono acumuladas e com sangramento pós parto.
Então, pessoas vão até suas casas para especular sobre o bebê, checar a sua barriga: voltou ou não?, comer o lanche, ficar ofendida se você pedir para lavar as mãos antes de pegar o bebê (quando pedem para pegar o bebê) ou se pedir para vir outra hora, porque você não conseguiu repousar durante o dia. Ou ainda, pedir pra vir outra hora, já que a visita acabou de sair de uma gripe ou resfriado.
Perguntam se o bebê dorme e se tem cólicas. Se o recém-nascido tem irmão, perguntam se o irmão tem ciúmes. Mas não perguntam se a puérpera está se recuperando do parto. Aliás, quando se passou por uma cesariana, muitas pessoas supõe (ou até te cobram) que no dia seguinte você deveria estar virando cambalhota. Deveria? Afinal de contas, estamos no modernismo. Ou seja, anula-se a mãe.
Seria muito bom se as pessoas oferecessem a ajuda de que os pais (que acabaram de ter bebê) realmente precisam, e, entendessem que, por mais inexperiente que sejam, são eles quem melhor sabem cuidar do bebê. E ainda, que respeitem a mulher que é a fonte para o seu filho, física e emocional.
Seria muito bom se as pessoas "doidas pra pegar o bebê no colo", se oferecessem pra lavar a louça, levar algum lanche carinhosamente preparado, ler um livro para seu filho mais velho. E não deixar um presentinho, a mãe exausta e o bebê recém-nascido super agitado.
As pessoas deveriam se compadecer. Não deveriam falar e agir só porque querem, porque deu vontade... a fim de atenderem à elas mesmas. Ter uma mulher puérpera por perto é uma ótima oportunidade de correr atrás da cidadania e exercê-la. Cuidar da mulher puérpera é cuidar do bebê. Desenvolvemos, então, a cultura de visitar para ajudar e não para especular.